segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sequestro no Oco do Mundo


Duas da tarde estou em casa, bem deitado, sesteando aconchegado nos abraçado de prenda, na tela, Jogos de Amor em Las Vegas, bom filme. Ouço buzinaços em frente da casa, abro a janela. Vejo a VTR da Brigada Militar, e de lá sai meu amigo Emerson, com os olhos arregalados, apavorado, dizendo: -Roubaram dois caminhões carregados no interior, sequestraram os caminhoneiros. Eles tão bem armado, vamo atrás, te veste logo. Sequestro? bem armados... Na boa, foi como levar uma tijolada no meio da testa, comecei a me vestir, ala pomba bêbada, minha mulher me olhando apavorada: - Tu vai sair de casa? Sair do bem bom, dos braços da amada, pra perseguir bandido a unha! Coisas que só a polícia faz por você. Me visto, pego o armamento (um revolverinho cal. 38), e se vamo, atrás dos assaltantes, queimando pneu, voando para o interior resgatar os reféns. Eu sem acreditar muito no que estava acontecendo parecendo filme de ação, e pior, sabendo que o confronto com os bandidos bem armados seria quase inevitável. Logo entrando na estrada de terra, avistamos o primeiro caminhão abandonado. O motorista (vago) fugiu. Montamos uma barreira por ali, para ver se os meliantes voltavam. E logo soubemos noticias que eles fugiram mais para o interior numa caminhonete prata, e deixaram os reféns mais a diante. Vamo-nos novamente, a 140 km/h, em nossos potentes Corsa e Palio, ano 1999, soltando as peças. Encontramos os reféns que disseram que os assaltantes estão em 5 na caminhonete, que tem 4 espingardas calibre .12, e mais 2 pistolas 380, cada um. Olho para meu .38, e me sinto um piá com um bodoque na mão. E nós já enfiados no mato, sem rádio e celular mal pega, apenas consigo ligar pro meu colega e dizer: - Chama reforço, liga pro delegado, estamos no interior atrás do caras. Nos enfiamos no mato, e encontramos a Caminhonete abandonada. Chegar na caminhonete foi sinistro, ela encostada em uma curva do lado de um cemitério de fazenda. Tudo levava a crer que era uma emboscada. Graças a Deus não foi, os vagos não estava ali. Vasculhamos a área, nos em 5, mal armados, sem comunicação, sem reforço. E o BM mais antigo diz: - Pessoal fizemos o que tínhamos que fazer, recuperamos o caminhão, e a caminhonete, os reféns tão bem, e o outro caminhão foi pego na saída da cidade. Vamos tirar essa caminhonete daqui, voltar e esperar reforço, os caras tão bem armados, se der confronto não temos chance! Falou a voz da experiência, se morrêssemos ali, até para juntar os corpos ia demorar, pois o local era extremamente ermo. Voltamos para a estrada e fizemos barreira caso os bandidos tentassem voltar em outro veiculo, eu me sentindo o Capitão Nascimento, gritando ninguém passa, e revistando tudo que era Fuca e Brasília que passava pelo local. Ligamos para o reforço, que demorou mais de hora para aparecer. Quando apareceu fizemos mais umas buscas na mata, e fomos atrás de um informe que havia mais uns vagos em uma festa no interior com uma Ranger preta, que serviria para a fuga. Chegamos na festa. entramos atrás dos donos da caminhonete, agora com mais uns 10 de reforço da BM, de 12 na mão. Bom... Paramos a festa. O pessoal saindo apavorado, tiramos os donos da Ranger para fora, revistamos eles na frente do salão de bailes. Enfim... No fim os caras estavam limpos. Voltamos na DP. Tinha mais gente em frente a delegacia do que juntou no carnaval aqui da cidade. Era criança correndo, gente de tudo que é tipo, querendo saber do acontecido, tirando foto, entulhando a porta da DP. Mais reforços não vieram, e os que vieram foram embora, e vamos nós de novo, isso já são 10 da noite, eu e mais 4 BMs, para o mato fazer mais buscas, depois de correr muito de viatura em estrada de chão, subir cerro, descer cerro, rastejar no brejo. Confesso que rezando para não achar nada, afinal encarar 5 caras fortemente armados, com uma 12, dois 38, e duas pistolas, é piada. Não sou vídeo game, pra morrer e voltar, vida tenho uma só. Já é noite, e o que deu para fazer foi acalmar as famílias das propriedades onde realizamos as buscas. E vir embora. Achando tudo ótimo, pelo menos ninguém se feriu, e os bens foram recuperamos. Os vagos, hoje eles vão amanhã a gente pega. Essa é a dura realidade de policia do mato, até fazer uma ligação é difícil, mal equipados, abandonados, a única coisa que o policia aqui tem é a coragem, pois, se morrer só quem vai chorar vai ser nossa família. Como disse um sábio tutor de academia de policia: A maior obrigação que temos é voltar inteiros para nossa família no fim do dia.