sábado, 21 de setembro de 2013

Serpenteando


Essa tenho até vergonha de contar, mas pior que foi assim mesmo que aconteceu sem tirar nem por (mais ou menos...). Mais um dia comum naquela delegacia de campanha, eu aturdido em meus afazeres diários, ouvia um, ouvia outro, papel pra cá, papel pra lá. Até que lá quase batendo meio dia, me chega na DP o Cabo Aparício, um brigadiano aposentado, cansado de guerra, figura folclórica na cidade, sempre pilchado dos pés a cabeça, e mais grosso que dedo destroncado. Entrou na polícia naqueles tempos que nem se precisava concurso, que se tu fosse bom de briga, te puxavam para virar policial, pra dar tapa em maconheiro (mas isso são outras lendas...). Cabo Aparício tinha dado uns sopapos num vizinho, coisa corriqueira pra ele. E eu tinha que ouvi-lo sobre o fato. Apesar da fama de casca grossa, comigo o Cabo sempre era simpático do jeito dele. chegava na DP me chamando de guri, e dizendo que eu tinha que da uma dura nessa gurizada, que o mundo tava virado, e outras tantas que eu relevava, por saber que apesar do jeito xucro, era gente buena o velho cabo. E fui tirando seu depoimento, ele  me contanto que o vizinho teve a audácia de dizer pro Aparício tirar o lixo da frente da casa dele, e como não tinha acordado bom da cara, acabou dando um corretivo nele. Mas até me dizer isso a  história foi longa. Estava ele contando desde os tempo que serviu no exercito, lá nos tempos do Gumercindo Saraiva, etc, etc, e tale coisa e coisa e tal. Acabada a explanação fui na outra sala, pegar a impressão do depoimento, e vejo um troço se mexendo no chão. Achei não estar vendo direito. Esfreguei os olhos pra olhar bem, e nem acreditei, tinha um cobra, serpentando e saracoteando, bem no chão da delegacia. E agora? Fiquei sem reação, pois, academia de polícia nenhuma nos prepara pra esse tipo de situação. Não sabia se atirava no bicho, e estragava o chão da DP, se deixava o bicho, ou sei lá o que fazia. Bom nem deu tempo de pensar muito. Logo me sai o Aparício, puxando de um três listra (facão) de mais de dois palmo de comprimento da cintura, e sai errado a dita cuja. A cobra deu uns pinote, e o cabo a caçando com o facão, a coice e botinada. Até que a bicha ergueu o pescoço, e foi-se. Deu-lhe faconaço que espirro sangue na parede da delegacia. E eu sem saber o que era mais louco, se uma cobra em plena delegacia ou aquele gaúcho fazendo toda aquela algazarra. Depois da estripulia, o Cabo botou o facão pra dentro da bombacha, e disse: “Tchê Loco! essa era das venenosa. Que perigo guri!”.  Que dizer depois duma dessas? Quando conto tem gente que até nem acredita, mas também... se me contassem nem eu acreditaria.