quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Incêndio Macabro


Polícia no interior ouve e vê cada coisa que até São Tomé duvida, tem horas que parece que razão esta dando defeito. E este caso foi mais um desses relegados ao surreal, e até hoje, não consigo imaginar o que é real ou imaginação. Chega na delegacia um sujeito para registrar uma ocorrência de incêndio. Contou ele morar na capital, mas possuir um propriedade no interior do município, com uma casa e um galpão, e que neste local estava morando um tal seu Abrelino e sua esposa, que fazia meses que não pagavam aluguel. E para piorar ele ficou sabendo no dia anterior a casa pegou fogo, com tudo dentro. O dono acreditava que o tal Abrelino havia posto fogo na casa, pois, o “sedizente” vitimado, havia dado ordem de despejo à ele. Fui saber do que se tratava, entrei contato com a policia militar, onde me informaram que assim que souberam da ocorrência chamaram os bombeiros, pois fogo foi grande, e comeu toda a casa e o galpão que ficava atrás da mesma, e que quem havia chamado a PM tinha sido o próprio Abrelino. Pedi para que o policial militar que atendeu a ocorrência me companhasse ao local para o levantamento do mesmo, já que os bombeiros não conseguiram apontar a causa do incêndio, pois, quando chegaram tudo jazia em tons de cinza. No caminho o PM, foi me contando ter sido o primeiro a chegar, e o sr. Abrelino, um velho de lá seus 70 anos, e sua mulher da mesma idade, ainda estavam tentando apagar o fogo, com bacias e baldes, e até uma mangueira, mas tudo já havia sido lambido pelo fogo, tendo os míseros pertences da família virado pó. E ao perguntar ao velho como começou o incêndio, ele apenas dizia que não tinha sido ele que tinha posto fogo na casa. Chegando ao terreno, a dona Valdelina, esposa do suspeito (Abrelino), foi mostrando o estrago. Do ranchinho ficaram apenas as fundações, o que era de madeira virou carvão, o que era de ferro: panelas, talheres, fogão, tudo, tudo, preteou e retorceu. Não conseguia imaginar que vantagem o casal de idosos teria de por fogo em todos seus pertences, ainda mais pelo constavam, os dois não tinham para onde ir, e a senhorinha estava visivelmente desolada, sem saber o que fazer, ou a quem se socorrer. Tinha perdido todos seus parcos pertences e agora estava dormindo no galpão da propriedade do vizinho, apenas com as roupas do corpo. A senhorinha foi quem me mostrou o lugar ainda muito ansiosa, e dizia que o fogo havia começado em um quarto, e Abrelino o apagou, depois o fogo inciava novamente, isso por umas duas vezes. Depois o fogo inciou no outro quarto, até pegar fogo no forro da casa, e daí não deu mais tempo para nada. Foi curto circuito perguntei. Mas como seu moço, se nem luz nois tem na casa, respondeu dona Valdelina. Bom... Entreguei a intimação, para ela e o marido comparecerem na delegacia, para ver se achava algum sentido nessa história. No dia seguinte aparece o casalzinho na DP. Ouvi primeiro a velhinha, que me confirmou a mesma história, acrescentando detalhes difíceis de acreditar. Dizia ela que a meses, o casal ouvia barulhos pela casa. Eram pedradas e estalos pelos cômodos, e quando levantavam para ir ver do que se tratava, não avistavam ninguém. O rádio a pilha ligava sozinho, e as vezes portas da casa se abriam ou se chaveavam sozinhas. Poxa vida! Como que eu vou colocar isso num depoimento, pensei eu. O juiz vai achar que eu que estou louco, querendo culpar o além pelo fato. Pensei com meus botões: “essa velha só pode estar esclerosada”. Em seguida chamei sr. Abrelino achando que ele podia dar uma explicação mais razoável. Talvez tivessem deixado um candieiro aceso, um lampião, o fogão a lenha, algo assim. Entrou no cartório aquele caboclo, judiado pelo tempo, curvado do peso da vida, com as vestes sujas e poidas, um retrato de sua miserante situação. Perguntei se havia algum aparelho elétrico ligado na casa, antes do incêndio, e ele voltou a dizer que a casa não tinha energia elétrica. Perguntei sobre o fogão a lenha, ou outra fonte de calor, e respondeu que por ser dia claro, de um verão escaldante de um janeiro gaúcho, não tinha nenhum cavaquinho de lenha que fosse aceso na casa. Bom então “daonde” saiu o fogo, de um raio, de um cigarro? Então Abrelino começou a dar sua versão com a voz calma e resignada. Meu filho, o fogo começou num quarto, onde só tinha uma cadeira, e um rádio sem “pia” (pilhas), desligado. Peguei um barde e apaguei o fogo. Dali um tempo ouvi uns estalo e tinha fogo no quarto de novo. Vortei a aparta o fogo. Depois o fogo inicio no otro quarto, onde só tinha um frizi desligado, que a gente usava pra por as panela. Logo apareceu fogo no forro da casa. Despois já vi que tinha pego fogo no galpão onde tinha fumo secando. Dai eu e minha veía, mais os vizinho corremo com os barde, e manguera pra apaga o fogo. Mas uma hora fui vê e a manguera tava com um nó bem atado no meio dela. Não entendi. Se eu arrecém tava usando ela, quem que tinha dado um nó. Dali um tempo a maguera pego fogo também, chegando a derrete inté a tornera de prastico. Pegava o barde apagava de um lado, dai corria pro outro, e pegava fogo, e corria prum lado e pro outro, e já não tinha o que faze. A casa queimo toda, e o galpão também. Perdemo todas nossa roupa, as comida, e todo o fumo que eu tinha recebido por trabalha pro vizinho. Agora me diz, se o senhor acha que eu botei fogo na casa? Eu já não achava mais nada depois disso tudo. Daí perguntei, mas então seu Abrelino, quem pós fogo? E pior que ele respondeu. Seu moço, faz dias que tem espirito rondando a casa, jogando pedra, dando batida. Varias veis enquanto a gente tava na sala ouvindo rádio, quando via dava um clarão naquele quarto que pego fogo, uma luz branca bem forte, mas como se nem bico de luz tinha lá? Outras veiz um pano de prato pulava alto da mesa, sem ninguém incosta, as gaveta dos taier (talheres) abriam sozinha e caiam no chão. E por umas três veiz começo fogo dentro da casa, e a gente teve que apaga, só não nos mudamo, por não te pra onde i. O senhor pode bota aí, pro seu juiz, que foram os espirito do além que puseram fogo na casinha que nois morava. Mas seu Abrelino, como que vou dizer pro juiz, que foram os espíritos que botaram fogo na casa? O que o senhor vai escreve o senhor é que sabe, só sei que foi assim, e se o “capa preta” me chama vô dize isso na frente dele. Passei o que tinha para o delegado, que achou tudo muito estranho, mas por falta de provas, falta de nexo, e falta de qualquer boa explicação, remeteu o Inquérito ao juiz, no estado que se encontrava. Disso tudo a única certeza era que o casal de velhinhos tinha convicção das causas do incêndio, agora o que realmente aconteceu naquele dia, quem vai saber? Quanto a mim, não duvido nem desacredito, muito antes pelo contrário.

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